Repelente natural criado na Ufal promete revolucionar combate ao Aedes aegypti em todo o Brasil

Coordenado pelo pesquisador Cícero Eduardo, NoooBites pode ser usado inclusive em recém-nascidos e gestantes, já está no mercado alagoano e equipe busca financiamento para produção em larga escala

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão | Redação

A quantidade e a gravidade de novos casos de dengue no Brasil e em Alagoas assustam a população e deixam apreensivos estudiosos no assunto que, há anos, buscam soluções para eliminar, em definitivo, o mosquito Aedes aegypti que causa, além da dengue, outras arboviroses como zika, chikungunya e outros.

Enquanto a solução para erradicar o mosquito minúsculo que faz estragos gigantescos na população não chega, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) estão em busca de parcerias para produzirem em larga escala o primeiro repelente hipoalérgico, não tóxico, orgânico, autossustentável, sem veneno, sem inseticida e sem provocar danos ambientais disponível no mercado, o NoooBites. Atualmente, o repelente já é produzido na Ufal em quantidade considerada ainda pequena pelos pesquisadores. São cerca de mil litros ao mês.

O professor Cícero Eduardo Ramalho Neto coordena o laboratório de Genética da Ufal e conduz a pesquisa. Ele afirmou que o NoooBites é o único repelente no mercado produzido por seleção de DNA vegetal, resultando em um blend (junção, mistura) de óleos essenciais que, por experimentos científicos, comprovam repelência contra insetos de forma eficaz e segura.

A pesquisa está sendo conduzida há 22 anos. O professor não revelou detalhes da fórmula, mas garantiu que são utilizadas apenas plantas presentes na flora alagoana. “São substâncias retiradas da Mata Atlântica, da Caatinga e até do quintal”, contou, ao citar como exemplo apenas o óleo de abacate, que é totalmente desagradável aos mosquitos. O NoooBites não engordura e tem apresentação de 20, 50 e 120 ml.

“A dengue é um flagelo da humanidade, ceifando vidas em todo o Brasil. Mais de dois milhões de pessoas já foram infetadas pelo mosquito Aedes aegypti desde o início deste ano, a tendência até o final de 2024 é de que cinco milhões de pessoas tenham a doença. Precisamos nos proteger dela. E o repelente natural é uma opção segura. Ao usá-lo, o efeito final é uma sensação de alívio e bem-estar duradouros, com agradáveis aromas do campo”, destacou o professor Cícero Eduardo Ramalho Neto que é pós-doutor em Genética Molecular / Proteômica / Bioinformática na Universidade de Exeter, Reino Unido. O pesquisador possui doutorado em Biologia Molecular / Biotecnologia pela Universidade de Londres, da Escola de Medicina Básica e Ciências da Saúde, desde 1995.

Pesquisadores da Ufal na produção do NoooBites (Foto: Edilson Omena)

O repelente NoooBites deve ser aplicado, conforme suas explicações, preferencialmente nos tornozelos, cotovelos, orelhas e rosto, lugares estratégicos para o mosquito. “O rosto é um alvo do mosquito porque exalamos muito CO2 (dióxido de carbono), desta forma o local é uma espécie de filé mignon para o mosquito”, ensinou.

O público gestante é um dos alvos preferidos dos mosquitos por produzir, em média, mais 20% de CO2 do que o restante da população e chegar a temperaturas em torno de 0,7 graus a mais que as demais pessoas.

De acordo com Cícero Eduardo Ramalho Neto, não é necessário destruir os mosquitos. Os insetos fazem parte do ecossistema e servem de alimento para pequenos animais como sapos e lagartixas. Entretanto, podemos manter esses insetos perigosos longe da nossa família, protegendo contra várias doenças, inclusive as arboviroses dengue, zika e chikungunya. O mosquito é o animal que mais mata no planeta. Mata mais do que as cobras, jacarés e escorpiões.

A equipe coordenada pelo professor Cícero Eduardo Ramalho Neto está no aguardo de uma reunião com o reitor da Ufal. “Aparentemente a Universidade está empenhada em fazer a distribuição do repelente na própria Universidade, em algum local que vai ser ainda decidido”, adiantou.

Por ora, acrescentou o professor, é um plano muito incipiente. No entanto, com grandes chances de concretização nas próximas semanas. O professor tem ido com frequência a Pernambuco, onde tem se reunido com a Secretaria de Saúde daquele estado. E espera trazer na mala ao retornar, novidades para que a produção em larga escala possa ser iniciada. O repelente já conta com a parceria do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep).

“O repelente já está na pauta principal de execução da Ufal. O objetivo é exatamente fazer essa distribuição, principalmente para as populações mais carentes e ao público mais suscetível aos mosquitos como as gestantes, por exemplo. Além de crianças menores de dois anos de idade, cuja indicação para uso dos repelentes convencionais não é permitida”, detalhou.

“Além do recém-nascido, o NoooBites pode ser aplicado na pele de qualquer pessoa. Sejam idosos, crianças e gestantes. Não contamina os aquíferos, retornando ao ecossistema sem ameaçar nenhuma espécie da fauna. Trata-se de um produto exclusivamente de origem vegetal e 100% autossustentável. Um dos óleos essenciais é cicatrizante e calmante da pele”, garantiu o professor.

“A maioria da população brasileira desconhece os malefícios que os repelentes causam. Os repelentes disponíveis no mercado são fabricados a partir de substâncias extremamente perigosas para os seres humanos, animais e ambientes. Posso citar pelo menos três: DEET, Icaridina, IR 3535”.

Segundo o professor, a primeira substância foi criada pelo exército americano em 1946. Seu uso pode afetar os neurônios, baço, fígado, intestino. “Não importa a dose. É um inseticida”, assegurou o pesquisador, ao acrescentar que a Icaridina é um derivado da picaridina, substância extraída da pimenta.

O pesquisador explicou que não é à toa que os repelentes tradicionais vendidos em farmácias e supermercados não são indicados para crianças menores de dois anos de idade. “Fora que no próprio rótulo avisa para não usar o produto mais de três vezes por dia”, lembrou o pesquisador, ao acrescentar que o NoooBites pode ser usado desde o primeiro dia de vida do recém-nascido, sem nenhuma contraindicação e basta apenas uma aplicação ao dia.

Larvas do mosquito Aedes aegypti (Foto: Reprodução)

Cícero Eduardo Ramalho Filho atua na área de Biologia Geral, especificamente Biologia Molecular, Biotecnologia, Bioinformática, PCR, DNA recombinante, PFGE, Transgenia, sequenciamento de DNA, Microbiologia Aplicada, Genômica e Proteômica e Inovação Tecnológica.

Segundo o professor, que é orientador de doutorado e de pós-doutorado do Programa PNPD-Capes, o aparelho bucal do mosquito é longo. “Sua saliva tem uma substância anestésica, vasodilatadora, antiplaquetária e anticoagulante. A fêmea vive cerca de 35 dias e a cada postura libera 200 ovos em média. É uma luta hercúlea combater o mosquito. Temos que nos prevenir”, finalizou.

Cícero Eduardo desenvolve protocolos e kits alternativos para diagnóstico molecular (DNA/RNA) de vírus, bactérias e fungos filamentosos. Participa da Rede Nacional de Sequenciamento de DNA – Projeto Genoma Brasileiro - e da Rede Nacional de Proteoma (Ministério da Ciência e Tecnologia / Finep / Fapeal).

O professor é também consultor da Empresa DNATEST Lab no Programa PAPPE (Finep / Fapeal). Coordena o Laboratório de Genética Molecular, Genômica e Proteômica – Gempro. Coordena também o Laboratório de Bioinformática da Ufal. Recentemente concluiu pós-doutorado na Universidade de Exeter, Reino Unido, 2006-2008, é consultor ad hoc do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), orientador de Pibiti (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação-CNPq), consultor ad hoc da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e trabalha na produção de repelentes e insumos destinados à manutenção da saúde humana, animais e plantas.

'O grande empecilho é que o sistema de mercado impede que inovações dessa natureza ganhem o mercado nacional. Uma grande empresa do mercado farmacêutico não vai admitir perder visibilidade comercial', pontua o economista Francisco Rosário

Presente em 81 países, empresa é apoiadora do NoooBites

Segundo o coordenador da pesquisa, Cícero Eduardo Ramalho Neto, o NoooBites só foi possível porque teve um apoio financeiro inicial de duas empresas estrangeiras com bolsas para os alunos, da H2CI e da Forest Group, além de equipamentos da Ufal.

“Foram com essas bolsas da Europa e um apoio inicial da Forest Group, além, claro, de todo o apoio da universidade que conseguimos avançar na pesquisa”, afirma Ramalho.

Através do pesquisador Cícero Eduardo Ramalho Neto, a reportagem do portal Tribuna Hoje conseguiu ouvir o professor doutor Russell W. Davis, diretor da H2CI, que falou sobre a importância da pesquisa e da empresa. Acompanhe o áudio em inglês e a tradução segue abaixo.


“H2CI é um consórcio internacional de pesquisa, tecnologia, inovação, consultoria, serviço de segurança e facilitação empreendedora – dedicado a melhorar a vida com tecnologia acessível e criar oportunidades para mulheres e jovens. Temos setores lucrativos e não-lucrativos, com mais de 110 membros e uma presença em 81 países para nos ajudar a atingir os objetivos.

Nossas divisões de serviços médicos são sediadas aqui em Maceió e em Londres, no Reino Unido. As atividades brasileiras focam na telemedicina e na medicina tradicional.

Nossas atividades na medicina tradicional brasileira utilizam a natureza para curar e garantir a manutenção do corpo humano. O programa de planta medicinal foca nas espécies de plantas do Nordeste brasileiro, no desenvolvimento de fazendas especializadas para o cultivo destas plantas e em criar trabalhos para mulheres e jovens que moram em áreas de baixa renda.

Os vários projetos e estudos acadêmicos do professor Eduardo na Ufal estão sendo apoiados através das nossas iniciativas da medicina tradicional nos últimos oito anos. O NoooBites é apenas um produto entre os nossos desenvolvimentos de sucesso. O valor de usar materiais 100% seguros e naturais, todos a base de plantas, com capacidade de serem produzidos usando matérias-primas locais não pode deixar de ser destacado. Os repelentes de mosquito comuns que são vendidos não são acessíveis pelos pobres e por aqueles que vivem nas ruas e áreas rurais. Além disso, vários destes produtos possuem restrições para uso em bebês – restrições que o NoooBites não tem.

Estamos em processo de aumentar nossa produção local do repelente para dar conta da crise atual no Brasil e para exportá-lo a nossos parceiros de outros países tropicais com foco em comunidades de baixa renda”.

ESTUDOS AVANÇADOS

Erick da Silva Marques é bolsista da pesquisa e colabora com o professor Cícero Eduardo, ele afirma que é adepto do uso do NoooBites, e de acordo com ele a eficácia é 100%. “Não só eu, mas toda a minha família é usuária deste repelente e sua eficácia é comprovada. Sou suspeito para falar porque acompanho aqui o processo de pesquisa e sua produção, mas é justamente por isso, por conhecer, que indico este repelente. É uma opção saudável para a pele e ainda te deixa protegido contra mosquitos e outros insetos”, falou.

Matilde Borges, que também é uma das pesquisadoras do NoooBites, falou da importância do repelente para toda a sociedade alagoana e até mesmo brasileira. “A ideia é produzir em larga escala para que o produto chegue a mais pessoas, para que elas se protejam, como é um repelente natural à base de algumas plantas, os óleos essenciais que contêm nele são eficazes para deixar o mosquito longe por longas horas”, disse, acrescentando também que toda sua família usa. “Lá em casa e na casa de outros parentes todos têm o seu e todos usam e nunca tiveram problemas, é importante que ele chegue a mais pessoas, no interior de Alagoas e até fora do estado”.

Veja o vídeo e confira a entrevista na íntegra com os pesquisadores abaixo.

O NoooBites é vendido em quatro estabelecimentos comerciais (veja no vídeo os locais) entre R$ 40 e R$ 60, mas, para o pesquisador, o valor é relativamente baixo para os benefícios dele. “Acredito que seja um valor que cabe no bolso do alagoano, para um produto natural, inovador e livre de venenos. Este valor é comercializado justamente para que a gente consiga comprar os insumos e matérias-primas para produzirmos mais e mais”.

Maceió registra aumento significativo de casos e nenhuma morte em 2024

Os casos de dengue aumentaram ao longo das últimas quatro décadas. Em 2024, entretanto, houve um aumento muito significativo tanto de casos como de mortes pela doença no país. Na capital alagoana, apesar de não ter registro de mortes, os casos da doença aumentaram 114, 63% em comparação com o mesmo período de 2023.

De acordo com um levantamento solicitado pela reportagem do Tribuna Hoje, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que em 2024 de janeiro até o dia 15 de abril já foram confirmados 1.232 casos da dengue. Em 2023, foram 1.730 ocorrências da doença e em 2022 a capital registrou 14.849 casos.

E no comparativo dos anos, nos mesmos períodos, o levantamento aponta que em 2022 (854), em 2023 = (198) e 2024 = (1.232). Ainda conforme o levantamento enviado pela SMS, não houve registros de morte em 2022, 2023 e em 2024, até o momento, pela dengue.

De acordo com a secretaria, neste ano de 2024, os bairros com maior incidência de casos de dengue, conforme o último Boletim Epidemiológico, são: Benedito Bentes (303,61/100 mil hab.), Jacarecica (227,27/100 mil hab.) e Centro (203,60 casos /100 mil hab.).

OMS: cerca de 4 bilhões de pessoas correm risco de infecções transmitidas por Aedes aegypti

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase quatro bilhões de pessoas em todo o mundo estão em risco de infecções transmitidas por infecções do tipo Aedes - seja o Aedes aegypti ou o Aedes albopictus que, juntos, respondem por doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

A informação foi passada pela líder da equipe de arbovírus da OMS, Diana Rojas Alvarez, em uma videoconferência durante encontro na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em Brasília.

A especialista disse que a estimativa é que esse número aumente mais um bilhão ao longo das próximas décadas e isso pode acontecer devido a fatores como o aquecimento global e a adaptação do Aedes a grandes altitudes. Diana falou ainda que o mosquito já pode ser encontrado, por exemplo, em montanhas do Nepal e da Colômbia, além de países da região andina.

Mosquito Aedes aegypti (Imagem: Reprodução)

A líder da equipe de arbovírus da OMS ressaltou que a organização monitora ativamente surtos e epidemias de dengue em pelo menos 23 países, sendo 17 nas Américas - incluindo o Brasil.

Diana Rojas falou que já aconteceu um “novo recorde”, quando citou mais de seis milhões de casos reportados e mais de sete mil mortes por dengue em 80 países. Conforme a especialista, a expansão de casos se deve a fatores ambientais como o aumento das chuvas e, consequentemente, da umidade, o que favorece a proliferação do mosquito, além da alta das temperaturas globais, ambos os fenômenos provocados pelas chamadas mudanças climáticas.

Ministério da Saúde adquiriu estoque completo de vacinas contra a dengue para 2024 e 2025

A terceira remessa da vacina da dengue contemplou 686 municípios do país. Ao todo, 930 mil doses foram distribuídas, incluindo as reposições às regiões que fizeram o remanejamento. Dessa forma, as cidades inicialmente contempladas puderam continuar a estratégia de vacinação junto às novas beneficiadas.

Até o final deste ano, o país receberá 5,2 milhões de doses, além da doação de 1,3 milhão de doses; isso permitirá a vacinação de 3,2 milhões de pessoas com as duas doses que completam o esquema vacinal. As vacinas são um importante instrumento para conter o avanço da dengue no Brasil. No entanto, diante da pouca oferta de doses por parte da fabricante, o foco segue na eliminação dos criadouros do mosquito.

INVESTIMENTO

Até o momento, o Ministério da Saúde (MS) liberou mais de R$ 93 milhões por meio de portarias para estados e municípios que decretarem emergência, seja por dengue ou outras emergências sanitárias. Os repasses ocorrem mensalmente. Os recursos são parte do R$ 1,5 bilhão reservado para esse fim.

Vacinação contra dengue pelo SUS ainda não chegou a Alagoas (Foto: Edilson Omena / Arquivo)

O MS também destinou mais de R$ 300 milhões para o incremento financeiro federal do Componente Básico da Assistência Farmacêutica no Sistema Único de Saúde (SUS). A recomposição do orçamento se dará por meio de aumento retroativo e contempla medicamentos que tratam sintomas da dengue.

MAIS FAIXAS ETÁRIAS CONTEMPLADAS

Foi adotada uma estratégia temporária para aplicação das vacinas da dengue que estão próximas do vencimento: os municípios que ainda tiverem um alto número de doses a vencer em 30 de abril poderão ampliar a vacinação para a faixa etária de 6 a 16 anos. "Precisamos lembrar que essa estratégia é apenas para as vacinas que possuem prazo de validade em 30 de abril. Ou seja, as cidades que não tiverem mais doses desse lote permanecem com o público recomendado anteriormente, de 10 a 14 anos”, disse Eder Gatti, Diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI) do Ministério da Saúde.

Se, mesmo assim, a adesão à campanha de vacinação seguir baixa, as doses próximas ao vencimento ainda poderão ser ampliadas ao público especificado na bula da vacina da dengue (atenuada), que vai dos 4 aos 59 anos.

A pasta reforça que a orientação tem caráter excepcional para otimizar a aplicação do imunizante e que, anteriormente, já havia orientado os estados que as doses próximas ao vencimento fossem redistribuídas internamente para outros municípios.

Anvisa alerta sobre repelentes adequados contra o mosquito da dengue

Em fevereiro de 2024, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou orientações à população sobre os tipos de repelentes adequados para evitar o Aedes aegypti, que transmite dengue, zika e chikungunya.

Nas instruções divulgadas pela Anvisa, apenas os produtos usados na pele e os de uso no ambiente possuem eficiência comprovada. “Não existem produtos de uso oral, como comprimidos e vitaminas, com indicação aprovada para repelir o mosquito”, alerta nota divulgada pela agência.

Segundo a Anvisa, os produtos aplicados na pele devem ser colocados diretamente nas áreas expostas do corpo, com exceção dos casos em que o rótulo traga instruções para o uso diretamente na roupa.

O órgão alerta ainda que as orientações descritas no produto também tratam sobre o uso em crianças, já que os cosméticos repelentes com o ingrediente DEET não devem ser aplicados em menores de dois anos e a presença dele não poderá ser maior que 10%, em produtos adequados para crianças de dois a 12 anos.

(Arte: Jonathan Canuto)

Assim como os cosméticos repelentes, os sanitizadores, que são inseticidas para matar o mosquito adulto ou repelentes para afastar o inseto do ambiente, precisam ter a aprovação da Anvisa tanto para a substância ativa, quanto para os componentes complementares, como solubilizantes e conservantes.

A Agência destacou que não existe comprovação para produtos com princípio ativo natural, como citronela, andiroba e cravo da índia, por exemplo. Além deles, não há comprovação que velas, os odorizantes de ambientes e incensos possuam propriedades repelentes de insetos.

O registro junto ao órgão garante a eficiência do produto para enfrentar o mosquito da dengue e para facilitar a consulta se determinado repelente está ou não regular, a Anvisa mantém no seu site duas listas: uma de cosméticos para aplicação na pele e outra de saneantes para uso no ambiente

Números de casos de dengue em Alagoas aumentam mais de 100% em 2024

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou que do início de 2024 até a terça-feira (23/4), foram notificados 6.804 casos suspeitos de dengue, dos quais 3.756 já foram confirmados. O número é bastante superior ao registrado no mesmo período  em 2023, quando as estatísticas deram conta de 2.300 casos suspeitos, sendo 1.393 confirmados.

Até esta Semana Epidemiológica, de número 16, Alagoas somou três óbitos em decorrência da dengue, sendo um morador de Atalaia, outro de Viçosa e o terceiro de Porto de Pedras. No mesmo período do ano passado não houve nenhum óbito confirmado. Atualmente, três óbitos estão em investigação, procedentes dos municípios de Teotônio Vilela, Boca da Mata e Barra de Santo Antônio.

AÇÕES DE COMBATE EM MACEIÓ

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realiza ações continuadas e estratégicas de combate à dengue, como vigilância, monitoramento e intervenções diretas nos locais onde há suspeita ou confirmação de casos, visitas domiciliares, atuação em pontos estratégicos como borracharias, oficinas e cemitérios, que apresentam maior propensão ao acúmulo de água parada.

DENÚNCIAS NA CAPITAL

A população também pode denunciar imóveis suspeitos de abrigar focos do mosquito através de um serviço de atendimento, como o Disk Dengue (82) 3312-5495 / WhatsApp:(82) 98232-8101, números disponibilizados para esse fim.

“NoooBites pode ser opção interessante para quem busca produtos naturais”, dizem infectologistas

A infectologista Normângela Barreto explica que o Aedes aegypti é responsável pela transmissão de várias doenças, além da dengue. E que a prevenção envolve principalmente o controle do mosquito vetor, eliminando possíveis criadouros e utilizando medidas de proteção pessoal, como repelentes e telas nas janelas.

“Além da dengue, que pode ser leve, grave e ainda evoluir para o óbito, o mosquito transmite ainda a febre chikungunya; o vírus zika; febre amarela (embora os mosquitos silvestres transmitam com mais frequência), febre do Mayaro e a febre do Oropouche, ambas causadas por vírus”, explica Normângela.

Para ela, ações de prevenção são essenciais. “Em locais com bastantes focos de água parada como depósitos de sucata, ferros-velhos ou lixões, deve ser realizada a aplicação de larvicidas, ou seja, produtos químicos que eliminam os ovos e as larvas do mosquito. Entretanto, essa aplicação deve ser sempre feita por profissionais treinados, sendo indicada pelas secretarias de saúde das prefeituras. O uso de calça e blusa de manga comprida em tempos de epidemia; passar repelente diariamente nas áreas expostas do corpo, como rosto, orelhas, pescoço e mãos; evitar locais com epidemia da dengue e tomar a vacina que protege contra o mosquito são grandes avanços no combate à doença”, orienta a especialista.

Infectologista Normângela Barreto (Foto: Arquivo pessoal)

Em relação ao repelente hipoalérgico e orgânico da Ufal, a infectologista diz que foi de grande ajuda científica para a população, contribuindo com a prevenção.

“O repelente hipoalérgico produzido pela Ufal pode ser uma opção interessante para pessoas que buscam produtos mais naturais e com menor potencial de causar alergias. No entanto, a eficácia e segurança desse tipo de produto podem variar a cada cidadão e é sempre importante fazer um teste de sensibilidade antes de usar qualquer produto, mesmo que seja orgânico ou hipoalérgico. Em relação à eficácia contra mosquitos e outros insetos, é importante verificar se o produto foi testado e aprovado por órgãos reguladores competentes, como a Anvisa, para garantir que ofereça a proteção adequada”, ressalta Barreto.

Ela esclarece que como cada pessoa pode reagir de forma diferente a produtos cosméticos e de cuidados pessoais, “é aconselhável consultar um dermatologista ou profissional de saúde antes de usar o repelente, especialmente se você tiver alguma condição de pele sensível ou histórico de alergias”.

A infectologista Luciana Pacheco também avalia que as medidas de prevenção passam pela necessidade de mudança de comportamento da população com relação a evitar a procriação dos mosquitos, eliminando locais com água parada. “Mas passa também pela gestão dos municípios que precisam ofertar água nas torneiras dos domicílios, desobrigando a população de guardar água em reservatórios para consumo. Estes reservatórios são os maiores criadores das larvas que se transformam em mosquitos”, explica.

Segundo Pacheco, a vacina foi importante para a ciência e para a humanidade. “A vacina dá uma proteção em torno de 70% para todos os quatro sorotipos do vírus, é segura, tem poucos eventos adversos. É uma pena a população não ter aderido à vacina nos locais onde está sendo aplicada, por estar dando atenção às fake news e suas orientações equivocadas a respeito do imunizante”. 


VACINA

Está disponível no Brasil a vacina Qdenga, que protege o corpo contra a dengue e é indicada para pessoas de 4 a 60 anos de idade que nunca tiveram dengue ou que já tiveram a infecção anteriormente. Essa vacina é disponibilizada gratuitamente pelo SUS. Além disso, existe outra vacina, a Dengvaxia, encontrada apenas em clínicas particulares.

Os sintomas da dengue podem variar de leves a graves e geralmente começam de 4 a 10 dias após a picada do mosquito infectado. Os sintomas podem incluir:

1. Febre alta (geralmente entre 39°C e 40°C)

2. Dor de cabeça intensa

3. Dor atrás dos olhos

4. Dor muscular e nas articulações

5. Náuseas e vômitos

6. Cansaço intenso

7. Manchas vermelhas na pele

8. Sangramento de mucosas, como gengivas, nariz ou urina (em casos graves)

Se você apresentar esses sintomas e morar ou ter visitado uma área onde a dengue é comum, é importante procurar um médico para diagnóstico e tratamento adequados.

Pesquisa buscou orientação do Sebrae; economista acredita no sucesso comercial do produto

O professor Cícero Eduardo Ramalho Neto contou que logo no início da pesquisa procurou o Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – em Alagoas.

“À época em que procurei, a instituição achou muito cedo e sugeriu que a pesquisa passasse por mais experimentos. E realmente, naquele momento eu não tinha nada de muito concreto”, resumiu.

De acordo com o Sebrae, para conseguir algum tipo de apoio, a orientação é que o assunto siga a partir da abordagem dos temas em que o Sebrae atua.

Na avalição do economista Francisco Rosário, a criação do repelente por um grupo de pesquisadores da Ufal mostra o quanto a universidade é um terreno fértil, é um celeiro para produtos, medicamentos de alta eficiência e custo reduzido.

Para listar a produção universitária, Francisco Rosário citou a pomada para HPV que está sendo licenciada. O produto é feito a partir de uma planta. “A própolis vermelha que foi melhor identificada tanto com o trabalho da Ufal quanto da Universidade Paulista de Medicina que hoje é a Unifesp. Existe também um trabalho de reaproveitamento da casca do sururu, do carbonato de cálcio para encapsular ele e fazer teste clínico com gestante, para evitar pré-eclâmpsia”, discorreu Francisco Rosário, que é professor de Economia de Indústria e Inovação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEAC da Ufal, que identifica produtos de baixo custo para soluções de problemas locais.

Segundo ele, os produtos sustentáveis e de baixo custo ainda oferecem renda para os produtores. “Mundialmente, a literatura define esse tipo de trabalho como inovação frugal. É a inovação de países em desenvolvimento. Essa noção começou na Índia e na China e está se espalhando para vários países. O Brasil também já tem uma associação brasileira de estudo que trabalha isso, que é a Rede Brasileira de Pesquisa em Inovação Frugal – Rebrif”.

O economista, além de fazer parte da Associação Brasileira de Inovação Frugal (Abrif), atua ainda como pesquisador em inovação, indústria e estratégias empresariais e é consultor de empresas. Francisco Rosário pontuou que na Abrif os membros tentam entender como é que o brasileiro se resolve tendo pouca ou, às vezes, nenhuma tecnologia de ponta.

Desta forma, o professor define o repelente natural como uma inovação frugal por apresentar, pelo menos, cinco características como o elevado custo-benefício. “O repelente tem um benefício enorme ao poder reduzir o impacto de uma epidemia de dengue que está matando pessoas. O primeiro critério da inovação frugal é o custo-benefício elevado. E essa é uma característica marcante do produto”.

Repelente NoooBites (Foto: Edilson Omena)

O segundo critério, explicou Francisco Rosário, é a simplicidade do produto. “O repelente deve ter uma patente. É feito a partir de óleos essenciais e que são facilmente disponíveis. Certamente, o segredo deve ser a dosagem e como esses óleos interagem entre si. É um produto simples, mas de impacto enorme. Então o segundo critério para identificar a inovação frugal é a simplicidade da sua matéria-prima e da forma de fazer e isso o repelente tem”, justificou.

Outro critério apontado pelo economista é a adaptabilidade. Conforme ele, o repelente, por ter em sua base óleos essenciais locais, é extremamente adaptável e ainda promove a manutenção dessas árvores especificas. “É um produto que tende a preservar o meio ambiente porque precisa da seiva, dos óleos essenciais das árvores, das plantas para produzir o medicamento. O repelente tem, então, mais um critério para ser uma inovação frugal: a adaptabilidade”, pontuou.

Outra característica, ainda de acordo com as explicações do economista, é o de resolver a essência do problema. O produto protege o ser humano, especialmente crianças e gestantes. “E, por fim, um dos últimos critérios, mas não menos importante, que é da sustentabilidade. É um produto natural, biodegradável, diferente dos outros repelentes. É totalmente sustentável, desde a sua produção até a sua eliminação pelo usuário. O repelente não vai poluir, não gera resíduo, não vai causar problemas nos lençóis freáticos, nos lagos, lagoas”, frisou.

Entre os problemas para o repelente ganhar espaço no mercado, o economista fez uma comparação com repelentes famosos comercialmente. “Você acha que uma marca já conhecida no mercado de repelentes vai permitir que um repelente de um professor da Ufal chegue com força no mercado?”, indagou, ao completar que o Brasil é um país que não valoriza o conhecimento e que um pesquisador ao estudar muito é tido como louco.

Francisco Rosário explicou que, em todo mundo, existem cinco, seis grandes indústrias farmacêuticas que não abriram, facilmente, espaço para um produto genuinamente alagoano.

“Para um produto dessa natureza ter realmente impacto, é preciso ser produzido em grande escala, tanto de produção quanto no consumo. O SUS tem também dificuldades, as grandes farmacêuticas fazem lobby e impedem a entrada de medicamentos locais, de soluções locais para resolver os problemas da população”, destacou.

Professor e economista Francisco Rosário (Foto: Arquivo pessoal)

Ainda segundo o professor da Ufal e economista, o SUS tem uma lista de 20, 30 plantas para fitoterápicos, mas que não se vê ninguém fazendo garrafada e entregando às pessoas que chegam com um problema como, por exemplo, ferida no corpo ou infecções.

“Inclusive tem uma professora do ensino médio, do ensino médio fundamental em Arapiraca, que já ganhou o Prêmio Nacional da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) de Inovação em cima desse conhecimento tradicional com uma horta de plantas medicinais para tratar verminoses dos alunos, infecções de pele, piolho, carrapato. Mas ninguém ouve falar nisso, porque as grandes redes farmacêuticas não permitem”, afirmou, ao arriscar que o SUS poderia fazer as compras públicas dos repelentes.

Na avaliação de Francisco Rosário, falta uma política pública alagoana de Inovação, entre Fapeal (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas), Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Secti). “Essa era a hora de financiar a produção para o resto do Brasil e pleitear junto ao governo federal que ele seja grande comprador”.

“Política pública se faz assim com ações, não com retórica como a gente vê. Temos um produto gerado, a baixo custo, por um professor da Ufal e temos uma necessidade nacional de combatermos um mosquito”, avaliou.

Em relação ao preço, está dentro do preço viável. Na verdade, de acordo com a opinião de Francisco Rosário, a rede pública tinha que comprar para distribuir à população, quando uma pessoa contrai dengue a sociedade toda fica no prejuízo.

“O problema não é preço ou o produto. O grande empecilho é que o sistema de mercado impede que inovações dessa natureza ganhem o mercado nacional. Uma grande empresa do mercado farmacêutico não vai admitir perder visibilidade comercial para um professor nordestino de uma universidade pública alagoana. Não vão dizer que o produto alagoano é melhor do que um dos Estados Unidos”, concluiu.